A gravidade
do acidente aeronáutico varia de acordo
com o tipo de pane (avaria) que provocou a queda ou pouso brusco.
A aeronave
pode fazer um pouso forçado em auto-rotação e se manter flutuando se os
flutuadores forem inflados. Pode assumir várias posições, ou seja, pode flutuar
em sua posição normal, invertida, com o rotor principal para baixo, ou mesmo
afundar rapidamente após o pouso.
Se a
aeronave flutuar por alguns segundos, podemos alijar a saída de emergência e
sair levando a balsa coletiva, se for o caso. Mas, se a aeronave não flutuar,
devemos seguir alguns procedimentos básicos:
1º ) manter a calma e esperar o
término do fluxo de alagamento no interior da cabine. A calma é primordial.
Esperar até que haja o equilíbrio das pressões interna e externa;
2º ) Acionar a saída de emergência,
desplugar o capacete, livrar-se do cinto de segurança, guarnecer a balsa, se
for localizada e sair; e
3º ) inflar o colete salva-vidas.
Ações Imediatas Após o Acidente
Alguns
procedimentos se fazem necessários após o abandono da aeronave acidentada:
- afastar-se da aeronave sinistrada
e procurar não nadar em águas poluídas por combustível;
- procurar pelos companheiros e prestar os primeiros socorros
aos feridos;
- amarrar as balsas com um cabo
para que não se dispersem e lançar a âncora flutuante na água;
- procurar manter-se aquecido e
seco, de preferência bem junto aos demais sobreviventes;
- usar a esponja para secar a
balsa;
- usar o toldo da balsa, se houver;
- ter sempre à mão os equipamentos de sinalização;
- racionar água,
alimentos e impermeabilizar tudo que for necessário;
- distribuir trabalhos de bordo e procurar improvisar um
apetrecho de pesca; e
- exercitar a manutenção da calma para que não haja pânico.
Métodos Alternativos de Flutuação
Em caso de
falha do equipamento, pode-se lançar mão de alguns métodos de flutuação alternativos.
Pode-se boiar de costas, de frente e com o auxílio do macacão no corpo ou fora
dele.
De costas.
Deita-se na
água com os pulmões cheios de ar e relaxa-se o corpo como se estivesse dormindo
na água.
De frente.
Baseia-se no
mesmo princípio, porém o rosto ficará projetado dentro d'água, tendo que
levantá-lo para respirar.
Com o Auxilio de Peças de Roupas no Corpo
Fecha-se a roupa(camisa), soprando através da abertura da gola será formada uma espécie de mochila ou corcunda inflada.
Com o Auxílio do Macacão Fora do corpo
Fazer um nó na ponta de cada perna da calça, fechar o zíper. Segurando na parte da cintura, bata com a outra mão na água formando bolhas que serão direcionadas para dentro da calça. Logo em seguida, segurar a calça na cintura com as duas mãos forçando a passagem do ar para as pernas, onde formarão duas câmaras.
CUIDADOS COM A SAÚDE
Em
sobrevivência no mar poderão ocorrer vários problemas de saúde. Saber evitá-los ou controlá-los é tarefa de cada um
em benefício de todos. As mais freqüentes são:
Enjôo
Não comer e
não beber. Deitar-se e mudar a cabeça de posição. Dispondo de remédio contra
enjôo, tomá-lo antes dos sintomas aparecerem.
Úlceras
Provocadas pelo contato com a água
salgada, procurar não abri-las ou espremê-las. Não deixar a umidade penetrar
nas feridas, mantê-las secas o máximo possível, e se possuir algum tipo de
pomada anti-séptica, usá-la. Deve-se aproveitar a água da chuva para lavar as
partes afetadas, limpando os poros da
pele.
Olhos Doloridos
O reflexo intenso
do sol na água poderá causar vermelhidão nos olhos, o que chamamos de olhos
doloridos, inflamados ou avermelhados.
Usar óculos
protetores, em sua falta improvisá-los. Colocar o tampão molhado de água salgada sobre os olhos e
amarrar com uma tira em volta da cabeça. Como os olhos se movimentam simultaneamente,
caso apenas um olho esteja machucado, recomenda-se tapar os dois.
Prisão de Ventre
É provocada pela falta de funcionamento intestinal. Apresenta-se como um
fenômeno normal em
náufragos. O sobrevivente deve procurar fazer exercícios e consumir
água. Existem registros de náufragos resgatados com vida e ausência de
evacuação relatada de 24 a
30 dias. Após o resgate, os intestinos voltaram a funcionar sem graves efeitos
subseqüentes quando restabelecidas as condições normais;
Dificuldade de Urinar
A
dificuldade de urinar e a cor escura da urina são também fenômenos normais em
tais circunstâncias. Isto se deve também ao pouco consumo de água.
Medo e Fadiga
A sensação
de medo é normal em homens que se encontra em situação de perigo. Embora
sentindo medo, é importante não desanimar. Lembre-se de que outros sentiram o
mesmo medo e conseguiram se sair bem das dificuldades e dos perigos. A fadiga é
o esgotamento resultante de grandes privações, o que muitas vezes pode conduzir
a distúrbios mentais que podem tomar a forma de intensa ansiedade provocada por
esforços excessivos ou atividades violentas, dando origem à estafa. O melhor
método para evitá-los é dormir e descansar o máximo possível. Quando não
estiver descansando, procure estar em atividade, atendendo às várias tarefas na
balsa ou fazendo algum jogo para distrair-se. O estado de alegria é um tônico
real e que se estende aos demais, não economizar o bom humor.
Queimaduras do Sol
Usar nos
lábios e na pele o protetor solar. Em sua ausência
usar manteiga de cacau ou qualquer tipo de hidratante para a pele.
Conservar a
cabeça, mãos e pés onde, o macacão não pode proteger, abrigados dos raios
solares. Lembre-se que os raios do sol refletidos na água, embora com menor
intensidade, queimam a pele e os olhos.
ASPECTOS
PSICOLÓGICOS EM
SOBREVIVÊNCIA NO MAR
O sentimento
de medo é normal em homens que se encontra em situação de perigo, que associado
com a fadiga física e psíquica, pode levar os distúrbios psicológicos
caracterizados por elevada ansiedade, agressividade, hiperatividade ou
depressão. Após alguns dias submetidos a esta situação, o indivíduo poderá
apresentar alucinação (ver coisas, ouvir ruídos ou ter sensações falsas e
irreais) ou delírios (ter pensamentos ou idéias fantasiosas), porém a percepção
de miragens não significa necessariamente que se está sofrendo de distúrbios
mentais. Estes sintomas são provocados pela privação ou estresse a que o indivíduo
está submetido, porém tendem a desaparecer após o período de exposição. Outros
sentimentos que são provocados pela situação de sobrevivência são o tédio, o pânico
e a solidão.
Medo e Ansiedade
O medo é uma
reação psicofisiológica em que o organismo provoca uma resposta de emergência
em uma situação não usual ou inesperada, percebida como ameaça por esse
organismo. O medo estimula o indivíduo a fim de melhor prepará-lo para
enfrentar o perigo que o afronta. Um dos sintomas do medo é o aumento do nível
de ansiedade do organismo, traduzido por sintomas físicos e psicológicos.
A ansiedade
pode ser definida como um mal-estar físico e psíquico , caracterizado por temor
difuso e sentimento de insegurança, provocado por um fato real percebido como
perigoso pelo indivíduo.
Os aspectos físicos do medo e a ansiedade são muito
semelhantes. Os sintomas físicos da ansiedade são:
-
aceleração dos batimentos cardíacos;
-
dilatação das pupilas;
-
aumento da tensão muscular;
-
distúrbios no sono (falta ou excesso de sono);
-
desmaios;
-
náuseas;
-
vertigem;
-
transpiração excessiva nas palmas das mãos, plantas
dos pés e axilas; e
-
sensação de vazio no estômago.
Acompanhando estes sintomas físicos, são comuns os seguintes
sintomas psicológicos:
-
agressividade, irritabilidade;
-
desânimo, perda de interesse;
-
agitação psicomotora ou verbal;
-
dificuldades de memória;
-
apreensão; e
-
pânico.
Método de Redução da Ansiedade
Para atenuar a ansiedade, podemos utilizar os
seguintes métodos:
-
procurar pensar, planejar e atuar de modo racional;
-
ter confiança em si mesmo;
-
estar treinado para uma possível situação de
sobrevivência;
- distribuir tarefas para os demais sobreviventes de
acordo com o seu estado físico e psicológico;
- manter-se ocupado o tempo todo, executando tarefas a
bordo (limpeza, arrumação, tratamento dos feridos, vigilância, pesca, etc.);
-
observar e procurar conhecer as reações emocionais de
seus companheiros;
-
manter-se calmo;
-
procure manter elevado o senso de humor;
-
descansar/ dormir nos períodos sem atividade;
- não permitir que o desânimo ou falta de confiança o
domine ou afete os demais sobreviventes; e
- procure distrair-se com jogos, cantar músicas, contar
piadas ou estórias divertidas ou mesmo orar, se a ocasião permitir.
FATORES NEGATIVOS EM SOBREVIVÊNCIA
O corpo humano não pode manter sua temperatura corpórea interna quando
imerso em água cuja temperatura esteja abaixo de 25ºC. A temperatura cairá até
que o resgate chegue ou o óbito ocorra. São quatro os diferentes estágios que
podem incapacitar ou levar o corpo humano a morte quando imerso em águas
excessivamente frias: imersão inicial ou choque térmico, imersão de pequena
duração ou fadiga do náufrago e hipotermia.
Imersão inicial ou choque térmico: Tão
logo o corpo humano entre em contato com a água excessivamente fria, ocorrerá
uma grande inspiração, seguida de um aumento
de cerca de quatro vezes na freqüência respiratória, levando o indivíduo a uma
hiperventilação aguda. Somente este fato pode vir a ocasionar espasmos nos
pequenos músculos da respiração causando o afogamento. Além do exposto, um
aumento significativo da frequência cardíaca e da pressão sanguínea será
observado, levando a uma insuficiência cardíaca aguda de taquirritmia
ocasionando o óbito em indivíduos predispostos e menos preparados, notadamente
aqueles de idades mais avançadas. Esses efeitos do choque térmico ocorrerão nos
primeiros três minutos, justamente na parte crítica.
Imersão de pequena duração ou fadiga dos nadadores: O óbito neste estágio, que
ocorre entre os primeiros três a trinta minutos de imersão do náufrago,
aparentemente afeta aqueles que tentam nadar. Até mesmo bons nadadores não
suportarão nadar mais do que alguns minutos em águas excessivamente frias.
Anteriormente, atribuía-se o óbito ao mesmo motivo do choque térmico, porém nos
dias de hoje encontramos uma teoria de maior aceitação onde a causa deve-se,
fundamentalmente, ao impulso natural de prender a respiração ao contato das
vias aéreas com a água. Em águas excessivamente frias a hiperventilação não
poderá ser controlada impossibilitando o estabelecimento, pelo nadador, de um
padrão de respiração adequado. Desta forma, a água atingirá as vias aéreas
levando o homem a apnéia induzida, provocada pelo fechamento da glote e,
conseqüentemente, a diminuição do ritmo cardíaco até a parada total.
Hipotermia
A fim de entender a causa da hipotermia é importante compreender as
condicionantes físicas que regem o processo de troca de calor do corpo humano.
A troca de calor existirá sempre que dois corpos encontrarem-se em
diferentes temperaturas num mesmo ambiente. O calor fluirá, sempre do corpo de
maior temperatura para o de menor temperatura.
Direta ou indiretamente, a hipotermia é a grande causa de morte no mar. O
progressivo resfriamento do corpo humano causa uma função fisiológica reduzida,
com declínio do consumo de oxigênio, da condução nervosa, da freqüência
cardíaca, da função gastrointestinal e da respiração. O corpo se defende contra
a exposição ao frio pela vasoconstrição superficial e pelo aumento da produção
metabólica de calor. Deste modo, as extremidades do corpo se tornam azuladas
devido à baixa circulação sanguínea. No que tange a área corpórea exposta, é
sabido que o corpo humano perde a maioria de seu calor através da cabeça e do
pescoço. Outros lugares sensíveis são as laterais do tronco e virilhas. Estas
são as primeiras e mais importantes partes do corpo a proteger do vento, da
água e do contato com qualquer superfície fria. A condutividade térmica da água
é 25 vezes maior do que a do ar. Além disso, a sobrevivência em águas frias é
agravada pelo fator intensidade do vento. Em um vento de 20 nós a uma
temperatura ambiente de 10ºC, o efeito será o mesmo que em uma temperatura
ambiente de 0ºC. Na região sul do país, abaixo do paralelo de 30º, essas
condições não são raras de ser encontradas. Os sintomas da hipotermia são
inespecíficos. Pode haver fraqueza, sonolência, letargia (sono),
irritabilidade, confusão mental, calafrios e coordenação motora prejudicada. A
pele, além da coloração azul, pode parecer inchada. Em casos de hipotermia
grave, é possível que haja interrupção da respiração. A ausência de pulso pode
levar a acreditar no óbito do náufrago. No entanto, anormalidades no ritmo
cardíaco estão diretamente relacionadas à diminuição da temperatura corporal.
Como defesa, a circulação sanguínea se concentrará na parte mais interna do
corpo, assim como os batimentos cardíacos cairão a um valor quase
imperceptível.
Como medidas preventivas passíveis de serem aplicadas numa
embarcação de sobrevivência destacam-se:
I) tentar manter uma dieta apropriada.
A ração de sobrevivência, assim como a água, são as únicas fontes de energia
para combater o frio numa embarcação de sobrevivência, e são limitadas. Caberá aos náufragos coletar água e alimento para
aumentar suas chances de sobrevivência;
II) evitar contato com superfícies
frias e garantir que o chão e as bordas das balsas infláveis estejam bem
inflados;
III) manter todos juntos para
aquecimento;
IV) proteger a cabeça e a nuca.
Perde-se até 50% do calor corporal através de cabeça e pescoço;
V) fazer uso das pílulas antináuseas
antes do mareio. Vômitos induzem a desidratação, fortalecendo a hipotermia; e
VI) evitar massagear o hipotérmico para
aquecer ou restaurar a circulação, pois a fricção agrava a hipotermia.
O sucesso do tratamento inclui uma
combinação de métodos internos e externos. Nem todos, obviamente, serão
passíveis de serem conduzidos numa balsa. O reaquecimento externo ativo,
através da utilização de cobertores, meios de proteção térmica e calor humano,
devem priorizar a área do tronco. Deve-se ter em mente que o melhor tratamento
para a hipotermia é evitá-la. Caso ocorra, o reaquecimento deve ser conduzido
na mesma proporção em que ocorreu a queda de temperatura. Assim sendo, um
náufrago que tenha uma queda instantânea de temperatura corpórea, como aquele
que cai ao mar, deve sofrer um tratamento imediato com o reaquecimento externo
do seu corpo feito de forma expedita logo após o resgate. Náufragos que tenham
sua temperatura corpórea caindo há dias, por outro lado, devem sofrer um
aquecimento externo gradual, a fim de evitar a dilatação periférica predispondo
a arritmia cardíaca e o choque hipovolêmico (causado pela diminuição da
circulação sanguínea nos órgãos vitais). Nos casos de hipotermia moderada, em
que os sinais vitais começam a desaparecer, a respiração cardiopulmonar (RCP)
deve ser iniciada imediatamente. A morte por hipotermia se dá, principalmente,
por parada cardíaca ou fibrilação ventricular e é difícil de ser constatada
face à inexistência, quase total, de pulso e respiração. A temperatura corpórea
e os sinais vitais podem levar dias até serem restabelecidos aos padrões
normais. A RCP não deve ser cessada até que a temperatura corporal venha a ser
restabelecida sem que os sinais vitais voltem a aparecer. Na dúvida, mantenha a
manobra de RCP até a chegada do resgate.
Permanência em Águas Frias:
Nosso organismo, apesar de possuir
sentidos aguçados, que
agem como “dispositivos” destinados à preservação da vida, cujas capacidades
ainda não foram explicadas totalmente pela ciência, não é uma máquina perfeita. Pelo menos, uma fonte de
energia torna-se necessária
para dar ao náufrago uma sobrevida até a chegada do socorro.
O CORPO HUMANO E A FISIOLOGIA DA HIPOTERMIA
Ao contrário do que muitos pensam, a fauna marinha não é o
maior perigo a um náufrago. A
maior causa de óbito em acidentes, nos quais indivíduos
ficaram expostos ou imersos num
meio líquido marinho ou
lacustre, é a hipotermia. A queda da temperatura corporal, didaticamente, divide-se em leve,
moderada e grave. Sendo o valor
de 35oC o limite para caracterizá-la. Ao náufrago, despreparado, este dado de
nada adiantará. Uma vez na água, sem o conhecimento das técnicas adequadas de permanência no mar, o
estado emocional fará com
que suas preocupações sejam outras, tais como nadar, gritar, gesticular e flutuar.
O estado de hipotermia é provocado
pela perda de calor e
está ligado, basicamente, a três fatores, quais sejam:
-Capacitação física
-Área de exposição corpórea; e
-Climatologia local.
Somente os dois primeiros podem ser
gerenciados pelo náufrago, conforme veremos a seguir.
Capacitação Física: Passível de ser aprimorada por meio do preparo físico, será posta à prova
em um momento crucial,
pois a quantidade de energia despendida, para que um náufrago se mantenha vivo, será tão menor, quanto melhor for sua higidez física.
Ao contrário do que muitos
pensam a reserva de
energia armazenada sob a forma de gordura presente nos indivíduos de maior
índice de massa corpórea não lhes facilitará a sobrevivência.
Muito ao contrário, ela traz prejuízo à circulação sanguínea e aumenta a taxa de consumo de oxigênio.
Isso faz com que o
metabolismo do obeso necessite de um maior aporte de energia, para um mesmo
trabalho a ser desenvolvido.
Nesse balanço energético, o maior consumo de energia será traduzido na maior rapidez em atingir
o estado de hipotermia.
Área de Exposição Corpórea: No processo físico da transferência de calor, a área entre
as superfícies em contato é diretamente proporcional à quantidade de calor trocado. Uma vez na água, deve-se procurar
assumir posições que
permitam reduzir a superfície corpórea exposta, de modo a proteger as áreas da cabeça,
lateral do tronco e virilha.
A posição de aquecimento individual (fetal ou help (heat escape lessening posture), deverá ser assumida tão logo o
desconforto ocasionado pela
sensação térmica, em virtude das condicionantes do naufrágio, apareça. Caso o número de náufragos permita,
ou exista um ferido, a
posição de aquecimento
coletivo (huddle) provê uma maior proteção térmica ao
ferido além de aumentar a probabilidade de detecção visual por uma unidade de busca e salvamento.
Climatologia Local: Como sendo o único fator no qual não temos capacidade de intervir, nos
cabe conhecê-lo e respeitá-lo. Quase sempre associada às altas latitudes, a baixa temperatura da
superfície do mar pode atingir a região dos trópicos por ocasião da entrada de sistemas frontais, além de possuir
locais, onde, devido a
fenômenos naturais,
aflora de grandes profundidades. A chegada das frentes frias
traz para as regiões tropicais
as baixas temperaturas da água do mar, associadas aos fortes ventos e ao mau tempo.
Esses fatores têm influência
no processo físico da perda de calor pelo náufrago.
É importante que o náufrago acredite que não é impotente para
sobreviver em águas frias ou geladas. O corpo humano perde calor num processo
gradual. Pesquisas indicam que
numa situação de calmaria, com temperatura da água a 5 °C, uma pessoa, normalmente
vestida, possui 50% de chance
de sobreviver após uma hora de imersão. Técnicas simples de permanência podem prolongar este período, especialmente
se o náufrago estiver vestindo
um colete salva-vidas. A atitude do náufrago pode fazer a diferença.
CALOR EXCESSIVO
Assim como o frio, o calor em excesso trará prejuízos à saúde dos
sobreviventes. A exposição demasiada ao sol poderá causar queimaduras e
insolação. Banhos de sol são proibitivos. A desidratação será agravada à medida
que a intensidade da transpiração aumentar. Todos os trabalhos que envolvam
algum esforço físico devem ser feitos nos horários em que a incidência da luz
solar seja menor. Na obrigatoriedade da exposição ao sol, o protetor existente
no kit de primeiros socorros deve ser utilizado. A insolação pode manifestar-se
de maneira súbita, quando a pessoa cai, desacordada, mantendo a pulsação e a
respiração, ou através de sinais e sintomas como tontura, enjôo, dor de cabeça,
pele seca e quente, rosto avermelhado, febre alta, pulso rápido e respiração
difícil. Esses sinais e sintomas nem sempre aparecem ao mesmo tempo.
Normalmente podemos verificar apenas alguns. O seguinte tratamento deve ser
seguido:
a) arejar a
vítima o máximo possível;
b) tirar suas
roupas, colocando-a deitada com a cabeça elevada; e
c) aplicar
compressa de água na cabeça, renovando com freqüência.
Água e Alimentação
Esta se
constitui na mais premente das necessidades para o sobrevivente. O homem pode
passar várias semanas sem comer se possuir água para beber, mas somente suportará
poucos dias sem água. Esse tempo vai depender muito do organismo de cada um e
da vontade de sobreviver.
Quando a
reserva de água é limitada e não for possível sua reposição com água da chuva,
fazê-la render o máximo possível. Conservar o corpo bem protegido tanto do sol
quanto de seus reflexos, facilitar a ventilação na balsa, não fazer esforços
demasiados e sempre que possível, procurar cochilar um pouco.
Determinar
com precisão a quantidade diária de água disponível, contando com a que se
poderá conseguir através dos dessalinizadores, destiladores ou aquela recolhida
da chuva, levando-se em consideração o número de sobreviventes e estado de
saúde de cada um. Se após esse balanço a quantidade de água for insuficiente,
mastigue o alimento retirando-lhe o líquido, jogando o bagaço fora.
A água é de
suma importância para o metabolismo do organismo, sem ela não se deve ingerir
alimentos, do contrário, o quadro poderá ficar cada vez mais crítico. Se a
ração de água individual for de dois (2) litros ou mais por dia, poder-se-á
ingerir uma quantidade de alimentos: Aves, peixes, crustáceos, moluscos, ou
mesmo ração enlatada. .
As náuseas e
enjôos ocasionados pelo movimento da balsa podem causar vômitos, por isso,
procurar não ingerir água ou alimentos nesse período. Procurar deitar-se e
recuperar-se e, após isso, tomar água para repor as condições físicas.
A fim de
diminuir a perda de água do organismo devido à transpiração, procurar molhar as
roupas e torcê-las antes de tornar a vesti-las.
Observar as
nuvens e estar prevenido para qualquer chuva. Ter sempre ao alcance uma lona,
toldo, plástico, etc, com que se possa recolher água.
A água da
chuva nem sempre satisfaz a sede. Nela faltam os minerais necessários ao corpo
humano, além de desagradar um pouco ao paladar. A fim de dar-lhe maior gosto e
suprir suas deficiências, mistura-se à água da chuva um pouco de água do mar ou
algumas balas açucaradas. Sempre que chover, beber a quantidade de água que
puder armazenar no estômago, sem passar mal.
Não beber água
do mar diretamente, muito menos urina. Estes líquidos ingeridos vão ocasionar a
perda da água já existente no organismo, tornando mais crítica a situação.
A alimentação
Os recifes
de coral ao longo das praias ou prolongando-se para águas mais profundas
oferecem grande e rica quantidade de alimentos. Na parte mais exposta dos
recifes, em relação à superfície, existem mariscos e moluscos de concha em geral. Ter o cuidado de
recolher somente os mariscos sãos. Evitar mariscos de colônias onde existem
alguns mortos, quase mortos ou mal cheirosos. Não comer mariscos e ostras
agarradas em estruturas metálicas, eles absorvem partículas de metal, causando
intoxicações ou mesmo a morte.
Em
circunstância alguma devem ser ingeridas medusas, caravelas, águas vivas. São
difíceis de pegar e podem proporcionar queimaduras.
Peixes
caranguejos, camarões, lagostas, lulas, pequenos polvos constituem alimento em potencial. Podem
ser encontrados em pequenas poças de água formada sobre rochas e recifes.
Encontrando-os
em águas mais profundas, usar anzóis e iscas para capturá-los. Como iscas podem
ser usados pequenos peixes, pedaços de metal
brilhante ou pedaços do invólucro da ração.
As
preguiçosas holotúrias (pepinos-do-mar) e os grandes caracóis vivem em águas profundas,
enterradas na areia ou lama do fundo do mar. O pepino-do-mar deve ser
dispensado, pois deve ser cozido para consumo.
O fígado e a
gordura da tartaruga são comestíveis e os músculos também, porém muito duros,
mas podem ser mastigados para se retirar a seiva, e depois jogar o resto fora.
Quanto aos
peixes de carne venenosa, não existe regra fixa para distinguí-los dos
comestíveis. Muitas vezes encontram-se peixes perfeitamente comestíveis em um
local, cuja mesma espécie em outro local constitui alimento nocivo, ou mesmo
perigoso. Essa nocividade pode ser causada pelas condições naturais do ambiente
em que vive, pelo seu regime alimentar e até pela estação do ano. O ato de
cozinhá-lo não neutraliza o veneno.
Nunca comer
vísceras ou ovos de qualquer peixe, utilizá-los como isca.
Os peixes
indesejáveis possuem certas características que os distinguem:
- quase em sua totalidade vivem em águas pouco
profundas de lagunas ou recifes: e
- quase todos são da família do Baiacu.
Corpos
arredondados e ou parecendo caixa, peles duras (tipo crosta coberta de placas
ósseas ou espinhos), bocas pequenas, semelhantes a bico de papagaio sem a ponta
extrema, as guelras apresentam pequenas aberturas e as barbatanas ou nadadeiras
ventrais são bem pequenas ou inexistentes. As denominações que receberam estão
de acordo com sua aparência.
Alguns
peixes, apesar de não venenosos, merecem cuidados no manuseio, pois contêm
espinhos que podem causar ferimentos: bagre, anchova, olho-de-cão etc.
Para pescar,
se não possuir equipamento, procurar improvisar. Anzóis podem ser feitos com
palitos, alfinetes, canivetes, espinhas de peixes ou
ossos de pássaros. Os anzóis devem ser pequenos e a linha deverá ser tão leve
quanto possível. Essa linha poderá ser obtida aproveitando cordões da bota de
vôo ou com LIRP (cordão Leve, Impermeável, Resistente
e Pratico) da balsa coletiva, ou
mesmo dos fios retirados do macacão de vôo, ao lado do zíper.
Para a isca,
deve-se capturar pequenos peixes que ficam à sombra da balsa ou entre molhos de
algas, nos quais se escondem também pequeninos caramujos e camarões. Usar estas
iscas com anzóis maiores, presos à linha mais resistente, para apanhar
golfinhos ou quaisquer outros peixes de maior tamanho.
Os peixes em
geral são atraídos pela sombra da balsa e são presas relativamente fáceis para
um arpão improvisado. Amarrar uma faca a um remo e usá-la para capturar peixes
grandes que não podem ser capturados com anzol.
Levando-se
em consideração que a noite é a melhor hora para se pescar, utilizar uma
lanterna para atrair os peixes, ou usar o espelho
de sinalização para refletir a luz da lua na água. Poderá acontecer de certos
peixes como o voador pularem na balsa. Não se assustar e tentar agarrá-lo.
Quando
pescar, procure não amarrar a linha no bote ou em si próprio (pescador), pois
se o peixe capturado for grande, poderá causar um acidente.
Todas as aves também constituem fonte de alimentação e podem
ser capturadas por meio de anzóis e iscas, pedaços de metal brilhante e o
invólucro da ração, por exemplo. Na ausência de anzóis, fazer uso de pequenas
travas com isca. Muitas aves são atraídas pela balsa como ponto de descanso e
quando for avistada, conservar-se imóvel. Algumas ou todo bando poderá pousar
na balsa. Agarrá-las logo que tenham fechado
as asas, mas não tentar sem a certeza de que o bote será certeiro.
As vísceras
de peixes e pássaros capturados e abatidos servem como isca. Para abater peixes
grandes, deve-se ter sempre a mão um gancho ou algo que possa dar pancadas para
facilitar o recolhimento do pescado.
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